Com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ensino religioso passou a ter um lugar de destaque no Ensino Fundamental, reconhecido como uma área de conhecimento, com objetivos próprios e uma proposta pedagógica pautada no respeito e no pluralismo.
Essa é uma oportunidade de trabalhar valores humanos profundos, formar alunos mais sensíveis e críticos, e promover uma cultura de paz dentro e fora da sala de aula.
Neste artigo, vamos mostrar como a BNCC estrutura esse componente, o que se estuda em suas unidades temáticas, quais são os desafios para a implementação nas escolas e como os professores podem aplicar o ensino religioso de forma ética, não confessional e conectada à realidade dos alunos. Confira mais a seguir!
O que é o ensino religioso e como ele é tratado pela BNCC?
A BNCC apresenta o ensino religioso como um espaço de conhecimento que visa promover o entendimento sobre as diferentes religiões, crenças e filosofias de vida existentes na sociedade. O documento destaca que a abordagem deve ser não confessional, ou seja, não deve promover nenhuma tradição religiosa específica.
A proposta é abrir espaço para que o aluno conheça a diversidade, reflita sobre ela, desenvolva seu próprio posicionamento e aprenda a respeitar diferentes formas de crença — inclusive o direito de não crer.
O que se estuda no ensino religioso segundo a BNCC?
O ensino religioso na BNCC está estruturado em unidades temáticas como identidade e alteridade, manifestações religiosas, crenças e filosofias de vida, ética e cultura, espiritualidade e sentido de existência.
Esses temas são abordados a partir de uma perspectiva interdisciplinar, levando o aluno a compreender o papel das religiões nas sociedades, suas influências culturais, simbologias e princípios éticos.
Com isso, o componente não só enriquece o repertório cultural do estudante, mas também ajuda na formação de valores fundamentais para a convivência em uma sociedade diversa.
Qual a importância do ensino religioso na escola contemporânea?
Muito mais do que aprender sobre religiões, o ensino religioso contribui diretamente para a formação ética e cidadã dos alunos. Em uma sociedade marcada por conflitos, intolerâncias e discursos polarizados, proporcionar aos jovens o entendimento de outras cosmovisões é essencial para fortalecer o respeito mútuo e o diálogo.
O ensino religioso atua como uma ponte entre o conhecimento e o desenvolvimento socioemocional, promovendo empatia, escuta ativa e responsabilidade coletiva. Para Regiane, esse componente pode ser um aliado poderoso na construção de um ambiente escolar mais acolhedor e inclusivo.
O que diz a LDB sobre o ensino religioso nas escolas públicas?
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) prevê o ensino religioso como parte integrante da formação básica do cidadão. No artigo 33, ela determina que esse componente deve ser oferecido nas escolas públicas de Ensino Fundamental, sendo de matrícula facultativa.
A legislação ainda reforça a necessidade de que o ensino religioso respeite a diversidade religiosa do Brasil e que não adote uma abordagem confessional, preservando o caráter laico do Estado. A LDB e a BNCC, portanto, caminham juntas na construção de um modelo de ensino que valorize o pluralismo religioso e a liberdade de crença.
Leia mais: LDB: entenda o que é a Lei de Diretrizes e Bases e sua influência nas escolas.
Quais são os objetivos do ensino religioso conforme a BNCC?
Os objetivos principais do ensino religioso na BNCC envolvem promover a compreensão das diferentes tradições religiosas, desenvolver o respeito à diversidade, fortalecer o pensamento crítico e estimular o diálogo inter-religioso.
Além disso, o componente busca desenvolver, no aluno, o autoconhecimento, a empatia e a reflexão sobre o sentido da vida. Esses objetivos estão diretamente conectados às competências gerais da BNCC, especialmente aquelas ligadas ao exercício da cidadania, à responsabilidade e ao respeito aos direitos humanos.
Como trabalhar o ensino religioso em sala de aula de forma respeitosa?
Implementar o ensino religioso com sensibilidade começa pela escuta. Professores devem criar um espaço onde os alunos se sintam seguros para expressar suas ideias, fazer perguntas e refletir sobre valores e crenças.
Atividades como rodas de conversa, análises de textos sagrados, debates sobre ética e cultura, além da utilização de filmes, músicas e outras produções culturais, ajudam a tornar o conteúdo mais acessível e envolvente.
O uso de projetos interdisciplinares com História, Artes e Sociologia também fortalece a compreensão da religiosidade como fenômeno social e cultural.
Quais são as unidades temáticas propostas pela BNCC para o ensino religioso?
A BNCC organiza o ensino religioso em seis unidades temáticas que orientam o desenvolvimento de habilidades ao longo dos anos:
- Identidade e alteridade;
- Manifestações religiosas;
- Crenças religiosas e filosofias de vida;
- Ética e cultura;
- Espiritualidade;
- Sentido da vida.
Essas temáticas permitem abordar desde as religiões tradicionais até as novas espiritualidades, filosofias orientais e indígenas, valorizando a diversidade e a reflexão crítica sobre o papel da religião na vida humana e nas sociedades.
Quais são as competências e habilidades específicas do ensino religioso na BNCC?
Entre as competências específicas destacadas pela BNCC para o ensino religioso estão o reconhecimento da diversidade de crenças, a análise de símbolos religiosos, o desenvolvimento da argumentação ética e a valorização do diálogo inter-religioso.
As habilidades incluem saber identificar elementos culturais, religiosos e filosóficos presentes no cotidiano, construir argumentos com base em diferentes perspectivas e refletir sobre os sentidos atribuídos à existência humana. Essa abordagem promove o desenvolvimento integral dos estudantes, alinhado às demandas da sociedade contemporânea.
Como garantir uma abordagem não confessional no ensino religioso?
A imparcialidade é a base de uma prática pedagógica ética no ensino religioso. Para garantir uma abordagem não confessional, é fundamental que o educador atue como mediador, não como representante de uma tradição específica.
O professor deve apresentar diferentes tradições de forma equilibrada, contextualizando suas histórias, símbolos, valores e rituais, sem emitir juízos de valor. A formação contínua, o uso de materiais pedagógicos diversificados e o apoio da equipe gestora, como Regiane, são fundamentais para manter o foco na construção de conhecimento e não em doutrinações.
Quais são os principais desafios para implementar o ensino religioso na escola?
Apesar de sua importância reconhecida pela BNCC, o ensino religioso ainda enfrenta alguns obstáculos. A falta de formação específica de professores, a escassez de materiais didáticos apropriados e o preconceito sobre a disciplina dificultam sua implementação.
Em muitas escolas, ainda se confunde ensino religioso com doutrinação, o que gera resistências de pais, alunos e até da própria comunidade escolar. Para superar esses desafios, é essencial investir em capacitações pedagógicas e abrir canais de diálogo com as famílias e com os próprios educadores.
Como formar professores para o ensino religioso com base na BNCC?
A formação docente deve considerar não apenas o conhecimento teórico sobre religiões, mas também as competências pedagógicas e socioemocionais. Oficinas sobre diversidade religiosa, mediação de conflitos, análise crítica da religiosidade na sociedade e uso de metodologias ativas são boas práticas.
Além disso, parcerias com instituições de ensino superior e organizações inter-religiosas podem contribuir para a criação de espaços de formação continuada, com foco em práticas inclusivas e respeitosas.
Quais estratégias pedagógicas podem ser usadas no ensino religioso?
As estratégias mais eficazes no ensino religioso são aquelas que despertam o interesse, promovem o debate e incentivam a reflexão.
Projetos interdisciplinares, uso de arte e literatura, visitas a templos, debates inter-religiosos simulados, análise de filmes e documentários, estudos comparativos entre sistemas de crenças e atividades lúdicas são alguns exemplos.
As atividades do ensino religioso devem estar sempre conectadas à realidade dos alunos e ao contexto social e cultural no qual estão inseridos, valorizando o conhecimento prévio e promovendo a autonomia.
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Como o ensino religioso pode contribuir para a cultura da paz?
Em um cenário de intolerância e conflitos, o ensino religioso pode atuar como instrumento de transformação social.
Ao promover o diálogo entre diferentes visões de mundo, combater estereótipos e ensinar o valor do respeito mútuo, essa disciplina ajuda a construir uma cultura de paz no ambiente escolar.
Os alunos aprendem a lidar com as diferenças de forma ética e empática, fortalecendo o senso de pertencimento, a solidariedade e a convivência democrática.
Como avaliar o ensino religioso respeitando a diversidade?
A avaliação deve ser contínua, processual e formativa, priorizando o desenvolvimento de competências como empatia, respeito, argumentação ética e reflexão crítica.
Em vez de buscar respostas “certas”, o foco deve estar na capacidade do aluno de construir argumentos, reconhecer a pluralidade e expressar-se com respeito.
Relatórios, portfólios, autoavaliações, participação em debates e projetos colaborativos são instrumentos adequados para avaliar a aprendizagem nesse componente, em consonância com os princípios da BNCC.
Qual o papel da comunidade escolar na valorização do ensino religioso?

A valorização do ensino religioso depende do envolvimento de toda a comunidade escolar. Famílias, gestores, professores e até lideranças comunitárias podem contribuir para tornar esse componente mais significativo.
Promover rodas de conversa, eventos inter-religiosos, feiras culturais e momentos de escuta ativa fortalece a relação entre escola e sociedade, legitima a proposta pedagógica e enriquece o processo de ensino-aprendizagem.
Conclusão
O ensino religioso, conforme orientado pela BNCC, representa um avanço significativo na promoção da educação para a convivência, a ética e o respeito à diversidade.
Longe de ser um espaço para imposição de crenças, ele se torna um terreno fértil para o desenvolvimento da cidadania, da empatia e do pensamento crítico.
Com estratégias bem planejadas, formação docente qualificada e apoio da comunidade escolar, é possível transformar essa disciplina em um verdadeiro eixo de construção da paz e do diálogo no ambiente educacional.