Você já ouviu falar em sala de aula invertida? E em termos como “rotação por estações”, “laboratório rotacional” e “gamificação”? Ainda podemos expandir essa lista com menção à Aprendizagem baseada em projetos e à aprendizagem baseada em problemas? Se você respondeu “sim” e conhece alguma dessas indicações, está antenado sobre um assunto essencial para quem se relaciona com o mundo da educação: as boas práticas de metodologias ativas. Se você respondeu não, nada de se preocupar! Hoje, nós vamos abordar esta temática e trabalhar alguns conceitos importantes para o processo de ensino-aprendizagem que é ponto-chave na educação de nossos dias.
Afinal o que são as metodologias ativas?
As metodologias ativas são uma nova maneira de pensar o processo de ensino e aprendizagem, pois ressignifica os papéis dos alunos e dos professores. Em oposição às tradicionais aulas expositivas, o professor desenha experiências de aprendizagem que colocam o aluno como protagonista ativo em seu percurso de aprendiz.
Esta mudança de perspectiva sobre aquele que está aprendendo é uma transformação frente a educação tradicional, na medida em que as metodologias trabalhadas até então seguiam caminhos voltados para que o professor desempenhasse o papel de detentor do conhecimento e o estudante fosse aquele que apenas recebia passivamente o conteúdo.
Assim, para aqueles profissionais da educação que estavam habituados a planejar aulas expositivas e centradas em sua própria experiência foi preciso inovar e voltar os esforços para aulas que envolvem os estudantes de forma ativa. Isto é: fazem com que os alunos e alunas sejam parte fundamental na relação de ensino e de aprendizagem.
As metodologias ativas, portanto, buscam engajar os estudantes, encorajando que os seus próprios interesses sejam foco e contribuam para que se mantenham envolvidos e motivados a trabalharem com os conteúdos curriculares.
O que isso significa no dia a dia da escola?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indica que os objetivos da educação devem estar baseados na “construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea” (BNCC, 2018).
Nesse sentido, trabalhar com metodologias ativas é pensar na formação do estudante de maneira integral, contemplando aspectos para além de conteúdos disciplinares e conhecimentos acadêmicos. Ou seja, é esperado que os estudantes desenvolvam competências e que as habilidades, as atitudes e os valores sejam trabalhados. Assim, queremos que os estudantes desenvolvam ferramentas internas e se tornem aptos a resolverem demandas complexas da vida cotidiana, realizando o pleno exercício da cidadania e seus desdobramentos. Não se trata apenas do domínio das teorias, mas da capacidade de transformar o conhecimento em ações.
Como fica o papel do professor?
Para estarem alinhados com as metodologias ativas muitos educadores precisam fazer um grande esforço de transformação, pois é bastante provável que as aulas sejam diferentes do que viveram até então. Quando estes profissionais estavam estudando na educação básica, certamente as metodologias usadas eram voltadas para um modelo clássico, como mencionamos anteriormente: isto significa que o conhecimento estava nas mãos dos professores e os alunos apenas recebiam informações.
Dessa maneira, agora o planejamento não está mais voltado apenas para o uso do livro didático, mas deve incluir diferentes ferramentas e estratégias e contar com a participação ativa dos alunos e alunas. Assim, muitos recursos podem e devem ser utilizados, tais como filmes, livros, jogos; as tecnologias digitais e os ambientes online também podem ser aproveitados, como plataformas que contenham conteúdo virtual e personalizado, além de chats, fóruns, e ambientes colaborativos.
Outro ponto que deve ser considerado é que a sala de aula não é mais um local de carteiras enfileiradas, mas um ambiente propício a incentivar o aprendizado. As aulas podem ocorrer em pares, grupos pequenos, grupos grandes. Além disso, o planejamento deve conter aulas que ocorram em outros ambientes da escola, de forma a promover experiências significativas e permitir que os estudantes aproveitem ao máximo diferentes maneiras de trabalhar o conhecimento.
De acordo com essa perspectiva, o papel do professor ganha mais algumas funções. Ele passa a ser curador dos recursos que irás utilizar, designer das experiências de aprendizagem, organização dos agrupamentos e mediador das aprendizagens. Tudo isso para criar situações que coloquem os alunos no centro do processo.
Como são desenhadas as metodologias ativas?
Algumas características são fundamentais para que os professores comecem a pensar boas práticas e planejar suas aulas apoiadas no uso de metodologias ativas. Vamos explorar algumas delas?
Colaboração
Ao trabalhar em conjunto com outros colegas, os estudantes são estimulados a compartilharem conhecimentos e experiências, discutindo ideias e resolvendo problemas com ajuda e aprendizados construídos de forma coletiva. Quando os alunos trabalham em grupos, é necessário que se apoiem em habilidades sociais, como por exemplo a comunicação e a cooperação.
Trabalhar em equipe também fomenta a autonomia e a capacidade de reunir repertórios que foram adquiridos previamente e que contribuem tanto com o processo de aprendizagem individual quanto com o processo de aprendizagem do grupo.
Resolução de problemas
O professor deve preparar situações-problema para que alunos e alunas desenvolvam o pensamento crítico. A partir de cenários complexos, os estudantes desenvolvem as habilidades de efetuar análises, buscando diferentes perspectivas, formular hipóteses e argumentar sobre os seus pontos de vista.
Dessa forma, são convidados a tomarem decisões e encontrarem soluções práticas para a resolução do problema proposto. Os desafios do mundo real são trazidos e os estudantes devem operar as funções cognitivas para conseguirem resolvê-los.
Responsabilidade
Um aspecto das metodologias ativas é a possibilidade de proporcionar autonomia aos estudantes, assim a responsabilidade do processo de aprendizagem passa a ser compartilhada; ou seja, não é mais apenas da escola e do professor, mas conta também com o próprio aluno. Embora ainda estejam em processo de formação e contem com o suporte e a mediação dos professores, os estudantes são encorajados a serem parte ativa de sua própria educação: devem tomar decisões, definir metas, planejar atividades, gerenciar o tempo e avaliar seu desenvolvimento.
Quando trabalham dessa forma, elementos essenciais para a formação de indivíduos prontos para encararem os desafios do mundo atual são estimulados: a autodisciplina, a organização e o desenvolvimento de habilidades de autorregulação.
Como as metodologias ativas funcionam na prática?
As metodologias ativas são cada vez mais adotadas e, portanto, as abordagens estão sendo ampliadas e aperfeiçoadas para serem exploradas da melhor forma, dependendo do contexto em que a escola e os estudantes estão inseridos. Alguns exemplos:
Sala de aula invertida: os alunos estudam, pesquisam ou realizam alguma tarefa antes da aula, em casa, por meio de materiais definidos e preparados pelo professor, como por exemplo vídeos, leituras, questionários. Assim, o tempo em sala de aula é dedicado a atividades práticas, discussões e esclarecimento de dúvidas.
Rotação por estações: neste caso, a sala de aula muda e é organizada previamente em diferentes “estações” ou áreas – todas conectadas a um mesmo tema. O professor determina um tempo para que os alunos possam se deslocar para realizar atividades específicas em cada estação. Dessa forma, os alunos têm a oportunidade de participar de diversas atividades durante uma única sessão de aula, proporcionando uma experiência dinâmica e envolvente.
Laboratório rotacional: esta dinâmica tem como base a rotação por estações, sua grande diferença é que uma das atividades que os alunos devem passar durante a aula podem ocorrer fora da sala de aula, por exemplo no laboratório de ciências, na sala de artes, na biblioteca, ou até mesmo no pátio. Geralmente o professor recebe um grupo de alunos em um desses espaços, enquanto o restante da turma realiza outra atividade (em grande parte das vezes é indicado utilizar um recurso digital), em outro ambiente – na própria sala de aula, ou no laboratório de informática, por exemplo.
Gamificação: esta prática é bastante apreciada pelos alunos, pois envolve algo que a grande maioria das crianças e jovens adoram: jogos! Aqui, elementos de jogos são incorporados ao processo de aprendizagem, como por exemplo, a inserção de pontuações, recompensas e desafios nas atividades do dia a dia. Assim, a participação ativa dos alunos é estimulada, já que o aprendizado se torna mais envolvente e motivador.
Aprendizagem baseada em projetos: nesta abordagem, os alunos trabalham em projetos que envolvem a aplicação prática dos conceitos curriculares que estão sendo trabalhados em diversas disciplinas, concomitantemente. A partir de uma questão disparadora, os estudantes podem investigar, planejar, executar e apresentar os resultados de todo o processo de desenvolvimento do projeto, integrando teoria e prática.
Aprendizagem baseada em problemas: nesta possibilidade, os alunos são apresentados a um problema complexo relacionado ao conteúdo que está sendo trabalhado, e devem analisar, discutir e resolver o problema, aplicando conceitos aprendidos. Aqui é indicado que os estudantes trabalhem em pequenos grupos e o processo de solução do problema é tão ou mais importante que sua solução, já que contribui para o aprendizado do conteúdo, de forma desafiadora e interessante.
Pudemos ver, portanto, que as metodologias ativas podem ser adotadas para contribuírem para um ensino de qualidade, com muito dinamismo.
Contar com o apoio das tecnologias e de recursos digitais é de grande valia, pois eles podem corroborar com os processos de ensino-aprendizagem que visam uma experiência educacional e escolar diferenciada: estudantes engajados a partir de um aprendizado significativo.
Ao colocar o estudante como foco e protagonista da aprendizagem, características essenciais para a época e o mundo em que vivemos serão desenvolvidas: colaboração, pensamento crítico, responsabilidade, autonomia. Desta forma, o ensino não será voltado para uma educação conteudista e teórica, mas para formar sujeitos que possam utilizar os recursos aprendidos e aplicá-los na prática, contribuindo positivamente com a sociedade atual.